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Em maio de 2019 a Plataforma habita-cidade, que opera junto à Escola da Cidade – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, organizou o Simpósio Arquitetura e Desafios Ambientais, em parceria com o gabinete do vereador Eliseu Gabriel, com o objetivo de promover o debate, buscando pensar soluções e caminhos. Este documento, produto do simpósio, visa oferecer insumos àqueles que atuam na construção e transformação do habitat humano e fazer avançar a discussão sobre sustentabilidade de modo a sensibilizar os agentes envolvidos e o público em geral. Mais do que uma carta de recomendações, o documento final aqui apresentado é um extrato do que foi dito no evento realizado na Câmara Municipal de São Paulo.

No Brasil, a mudança de uso da terra, a agropecuária e a energia são responsáveis por mais de 90% das emissões (resíduos e indústria, completam o quadro). Já nas cidades o perfil das emissões muda, sendo a matriz energética preponderante a principal vilã. Assim, o planejamento urbano e a arquitetura devem se associar às ciências da Terra e outras disciplinas, no ímpeto de buscar, de forma colaborativa, o melhor caminho para a harmonização das ações humanas com o planeta. Para que haja um resultado efetivo e uma distribuição justa dos frutos deste esforço, é impreterível que se dê uma dedicação e cuidado especiais às áreas mais sensíveis e às populações mais vulneráveis. O município de São Paulo é um bom exemplo do que não deve ser mais reproduzido; ao mesmo tempo possui uma história de protagonismo nacional e é celeiro de profissionais e voluntários com uma visão de vanguarda dos caminhos possíveis de serem hoje percorridos.

Tal empreitada requer uma estratégia de várias frentes. Uma economia de baixo carbono deve estimular uma inversão das velhas posturas – porém, mais do que uma simples ideia de compensações e recompensas, deve embasar-se na perspectiva de um desenvolvimento humano integral, através do qual se construa uma ética renovada nas relações com o outro e com o planeta. Os novos conhecimentos e ferramentas tecnológicas, ao somarem-se ao resgate de saberes ancestrais, podem possibilitar mudanças sensíveis e efetivas na forma como vivemos e ocupamos o território; um potencial regenerativo pelo qual o paradigma da Abundância possa prevalecer sobre o da Escassez. Por este novo paradigma, devemos criar as condições para um sistema econômico e de produção que gere trabalho digno para todos e produtos que respeitem um uso estratégico, racional e sustentável dos recursos naturais, sem jamais se esquecer da redução da desigualdade social, imprescindível à sustentabilidade.

Uma boa estratégia deve incluir e superar velhas relações de causa e efeito no processo de transformação da cidade. Uma política participativa e interativa já se dá de forma ampla, numa rede de ações independentes através de coletivos, movimentos culturais, iniciativas independentes e instituições de pesquisa. Reconhecê-las e assimilá-las como valiosos colaboradores às diversas instâncias do poder público, além de inequívoco fortalecimento do processo democrático, uma vez que possibilita uma comunicação quase imediata com as demandas em diversas escalas, é dar fluência a importantes processos reguladores inerentes àquilo que hoje compreendemos como um ecossistema urbano, possibilitando maior adaptação e resiliência, numa ecologia que integre natureza e sociedade.

Em um contexto político tão delicado, e cada vez mais polarizado, é de extrema importância não perder a possibilidade de convergências, principalmente em assuntos de tamanha urgência. A sociedade poderá aproveitar a oportunidade para observar e discutir questões programáticas, com o objetivo de resolver os problemas reais que estão se impondo do ponto de vista ambiental e social.

Devemos sustentar com ímpeto e coragem uma visão crítica de que nem o governo atual nem os anteriores deram a importância necessária ao papel estratégico que o meio ambiente tem no desenvolvimento do país e da qualidade de vida nas cidades. De uma coisa sabemos: o ser humano tem um papel decisivo na melhora ou piora do quadro atual.

Grupo Arquitetura e Biosfera (Luis Octavio de Faria e Silva, José Otávio Lotufo, Marcos Galhego, Marius Lopesini, Sidney Fernandes, André Garcia, Rita Buoro, Lucas do Val, Antonio Zellmeister, Luísa Carvalho)

Dentre os participantes das mesas do evento, além dos componentes do Grupo Arquitetura e Biosfera, colocaram-se como signatários do documento aqui apresentado:

Augusto Aneas

Cláudia Visoni

Coletivo Rios e Ruas

Denise Duarte

Eliseu Gabriel

Fabiano Pupim

Guilherme Castagna

Luciana Schwandner

Luiz de Campos Jr

Luiz Marques

Marius Lopesini

Rafael Zanata

Roberto Pompéia

Sylvio Barros Sawaya

Thais Simoni